Site Meter muito velha para isso: fevereiro 2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

o gato, o navio e o iceberg

eu tenho dois gatos. dois gatos lindos. o salém e o tico. ambos, resgatados. quando meu casamento terminou, eu tive que abrir mão deles e eles ficaram com meu ex. isso me corroeu por dentro. durante meses a fio, até que meu atual namorado me trouxe a solução "pega seus gatos de volta, e leva eles lá pra casa".

eu chorei. minha melhor amiga chorou. mas pela primeira vez, eu ponderei essa decisão: se eu levasse meus gatos, que são parte do meu coração não podendo ser vendidos separadamente, eu estaria entrando de novo naquilo. naquela instituição.

eu não moro na casa dele. mas fico muito aqui. e agora com o desemprego, acabo ficando o tempo todo. é bom ficar sozinha de tarde. tem seu lado bom, e seu lado ruim. ando refletindo MUITO sobre a minha vida, mas na casa dele não consigo produzir. gosto de desenhar, com milhões de materiais. gosto de costurar, fazer artesanato. ler. ele diz "você pode ler, tem um monte de livro aqui" e por algum motivo, não me dá vontade de ler os livros dele.

ontem, um dos meus gatos escapou. eu me senti num turbilhão. numa tempestade sem fim. eu tinha acabado de ter uma briga feia com o meu namorado, e aí meu gato escapa. escapa e vai pro telhado vizinho. eu quis morrer.

instinto é uma coisa muito louca, pois você apenas faz as coisas, sem pensar, sendo guiado pelo seu coração e seu cérebro apenas se desliga. parece que ao entrar em contato com a adrenalina, o cérebro desliga e fica de boa lá até aquela carga desumana de energia passar. por instinto, eu fiquei olhando pela janela. tava escuro, era de noite. meu gato que escapou se chama salém. igual o da sabrina. ele é preto. e olhando pela janela, sem saber o que fazer, desesperada, eu falei "não salém" e ele miou. eu olho pra baixo vejo um vulto. morri de novo. ele tava bem, tava assustado, e não tava conseguindo voltar. fiquei chamando ele, pra ele não pular pra outro lugar. tentei jogar comida, nada. ai eu lembrei que tinha um jeito de desmontar a janela. a janela, é tipo aquelas de alumínio  que se "montam". não sei explicar.  na fúria do dragão, eu fui pra desmontar aquela janela. quem desmontou, foi o namorado.

quando aquele vidro saiu, eu pulei na janela, e me dei conta como era alto aquilo. e eu tentando ir pro telhado, e o salém não parava de se roçar em mim. consegui descer sem pisar nele, peguei ele, passei pro meu namorado, ele prendeu o salém junto com o tico. nisso eu me dei conta que eu tava em cima de um telhado de um prédio, com telhas estalando. eu tenho medo de altura. muito, sabe? além da conta? e me dei conta do que eu tava fazendo. mas, acho que eu tive uma descarga emocional tão grande, que eu percebi que eu não to vivendo a minha vida. meus gatos morando de favor na casa do meu namorado, eu fico aqui sozinha sem acesso às minhas coisas. às únicas poucas coisas minhas, ficam juntas, no sofá, esperando a hora de voltarem pra casa delas. essa casa não é minha, e eu vivo como se fosse.

eu to vivendo na verdade, me escondendo das coisas. as coisas estão bem ruins pro meu lado. e eu ando meio perdida. perdida de mim. isso não podia ter acontecido. antes eu tinha muita fé nas coisas, e agora parece que eu to perdendo isso. e perdendo várias coisas ao mesmo tempo, como minha base, minha autoconfiança.

é como se um navio tivesse batido em um iceberg no meio do oceano. e eu consegui escapar por pouco, porque to boiando com a ajuda de um colete salva vidas. mas a cada hora na água, minha temperatura vai caindo e nem o colete pode me salvar.

eu to perdida, e com medo. e não sei mais para onde ir.